• Desde seus primeiros textos Clarice Lispector anuncia um brilhante projeto literário. Água viva, publicado em 1973, adensa o processo característico de sua narrativa, enfatizando-lhe a fragmentação, a contaminação do romanesco com o lírico e o abrandamento das linhas descritivas e representacionais, recursos menos acentuados em outras de suas obras, anteriores e posteriores.

    A trama do livro é tênue, o que faz dele "um romance sem romance". Um eu, declinado no feminino, escreve a um tu, no masculino, expondo suas ânsias e procuras, num discurso de fluidez ininterrupta entre o delírio, a confissão e a sedução: "Para te escrever eu antes me perfumo toda. Eu te conheço todo por te viver toda." O eu e o tu de Água viva ganham dimensões permutáveis de significação, integrando-se com o não humano: a natureza, as palavras, os animais, a "coisa" ou o "it". A linguagem se espessa numa densa selva de palavras e a obra descortina voraz processo de correspondências que interconectam vida, paixão e violência.

    Obsessivamente, a protagonista de Água viva busca surpreender as intrincadas relações entre o instante fugidio e sua inscrição no espaço. Sem nome, escondida sob o pronome eu, a personagem procura entender o significado da solidão e o de seu estar no mundo, no desencadear dos instantes que prefiguram um presente contínuo onde os limites cada vez mais esgarçados entre o que é interior e exterior à personagem desaparecem. Nesse lugar "enfeitiçado", em linguagem incandescente, escreve Clarice Lispector Seu texto faz fluir o sentimento de agora e, paradoxalmente, interliga a petrificação e a mudança.

    Água viva é um lindo poema em prosa, no qual se comemora a vida de tudo o que, intensamente, é. Sem receitas para decodificar o mundo enfeitiçado da incitante narrativa, o leitor toma consciência de que já não dispõe de modelos para ler, nem para entender Clarice Lispector.

    Lucia HelenaProfessora titular de Literatura Brasileira da UFF. Autora, dentre outros livros, de Nem musa nem medusa: Itinerários da escrita em Clarice Lispector.

  •  
  • Editora ‏ : ‎ Rocco
  • Idioma ‏ : ‎ Português
  • Capa comum ‏ : ‎ 96 páginas
  • ISBN : ‎ 978-6555320213
  • Dimensões ‏ : ‎ 20.8 x 13.8 x 0.6 cm
  •  

Observação: Os envios são feitos pelos correios. Não nos responsabilizamos por possíveis atrasos. Em caso de extravios, a livraria fará um novo envio ou a devolução do dinheiro.

 

 

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  • Desde seus primeiros textos Clarice Lispector anuncia um brilhante projeto literário. Água viva, publicado em 1973, adensa o processo característico de sua narrativa, enfatizando-lhe a fragmentação, a contaminação do romanesco com o lírico e o abrandamento das linhas descritivas e representacionais, recursos menos acentuados em outras de suas obras, anteriores e posteriores.

    A trama do livro é tênue, o que faz dele "um romance sem romance". Um eu, declinado no feminino, escreve a um tu, no masculino, expondo suas ânsias e procuras, num discurso de fluidez ininterrupta entre o delírio, a confissão e a sedução: "Para te escrever eu antes me perfumo toda. Eu te conheço todo por te viver toda." O eu e o tu de Água viva ganham dimensões permutáveis de significação, integrando-se com o não humano: a natureza, as palavras, os animais, a "coisa" ou o "it". A linguagem se espessa numa densa selva de palavras e a obra descortina voraz processo de correspondências que interconectam vida, paixão e violência.

    Obsessivamente, a protagonista de Água viva busca surpreender as intrincadas relações entre o instante fugidio e sua inscrição no espaço. Sem nome, escondida sob o pronome eu, a personagem procura entender o significado da solidão e o de seu estar no mundo, no desencadear dos instantes que prefiguram um presente contínuo onde os limites cada vez mais esgarçados entre o que é interior e exterior à personagem desaparecem. Nesse lugar "enfeitiçado", em linguagem incandescente, escreve Clarice Lispector Seu texto faz fluir o sentimento de agora e, paradoxalmente, interliga a petrificação e a mudança.

    Água viva é um lindo poema em prosa, no qual se comemora a vida de tudo o que, intensamente, é. Sem receitas para decodificar o mundo enfeitiçado da incitante narrativa, o leitor toma consciência de que já não dispõe de modelos para ler, nem para entender Clarice Lispector.

    Lucia HelenaProfessora titular de Literatura Brasileira da UFF. Autora, dentre outros livros, de Nem musa nem medusa: Itinerários da escrita em Clarice Lispector.

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  • Idioma ‏ : ‎ Português
  • Capa comum ‏ : ‎ 96 páginas
  • ISBN : ‎ 978-6555320213
  • Dimensões ‏ : ‎ 20.8 x 13.8 x 0.6 cm
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